Só. Eu estava realmente só. Esta foi a minha primeira viagem sozinho. O Mato Grosso do Sul é a solitária (daquelas que Henry Charrieré descreve em Papilon). Saí de Sumaré/SP às 9:40h e cheguei em Três Lagoas/MS com a minha motocicleta às 17h. Pelos 640km, lábios partidos e garganta seca. A estiagem castigava, e o céu se encontrava em algum lugar por detrás da névoa de poeira marrom que pairava no ar. Senti laivos de umidade apenas por um breve instante, momento em que atravessava a Usina de Jupiá, que se eleva sobre o Rio Paraná. Isso aconteceu um pouco depois de flertar com uma bela moça de olhos azuis no pedágio – o sétimo da Marechal Rondon, diga-se de passagem – de Castilho. Achei o olhar da moçoila vazio, mas retribui mesmo assim o sorriso. Naquele dia, eu queria estar só. Eu com os meus demônios.
A frase “boa sorte na vida” ainda repercutia. Esta foi a minha escolha, e sei que não foi tomada precipitadamente. Quando se sai de algo que te corrói, viajar é o melhor remédio. Eu precisava de paz. Era utopia, sabia eu disso. Contudo, estava de volta à estrada. De volta à procura de um lugar a que eu pertença.
Lagoa Maior, em Três Lagoas/MS |
Com meus alforges montados, parti para Campo Grande. A estrada até Águas Claras é regular, senão ruim. Passei por sobre o Rio Verde e o Rio Pardo, este último que dá nome à cidadela São Ribas do Rio Pardo. Ao avistar um número crescente de torres de energia, sabia que a capital sul matogrossense estava logo à frente.
Campo Grande/MS |
Aqui vi nuvens. Fazia algum tempo que não as via. Estava mais frio e menos seco do que em São Paulo. Parti incontinenti, com dores nas costas e no pescoço. Entretanto, a dor maior foi ter que voltar à mesmice de minha vida em Americana. Aqui vi placas apontando para a Bolívia e Cuiabá, o que me despertou uma vontade insana de continuar nesta toada viciante. Entretanto, o pouco de razão que me restava me obrigou a regressar. Adeus MS. Boa sorte na vida.
Aparecida do Taboado/MS |
Comi minha primeira porção de proteínas em quatro dias. No restaurante, o típico som “sertanejo” de todas as cidades do interior. Nas ruas, camionetes gigantescas lutavam pelas “beldades dando sopa” nas ruas. Sai de lá logo pela manhã. Afinal, foram 1500km desbravados em menos de 72 horas. No dia 6 percorri mais 500km. Adeus novamente, MS. Boa sorte na vida. Talvez um dia eu retorne.
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