Os relatos neste espaço cibernético não têm a intenção de gabar o autor das aventuras em questão. Não há também o interesse em mostrar aos leitores as cilindradas da motocicleta utilizada, a marca do equipamento ou mesmo a audácia do motociclista. Muitas das viagens sequer foram além de 200km percorridos, o que para uns pode parecer uma insignificante distância, não meritória sequer de uma breve anotação. Muitos dos lugares são provavelmente desconhecidos para grande parte do senso comum, e em outros não há nada a ser visto de realmente embasbacante. Mas, em suma, o que define se uma jornada é digna ou não é o prisma do ser humano por detrás da viseira salpicada de insetos. E se é digna, certamente merece um blues, gênero musical que melhor expressa, de uma maneira muitas vezes juvenil, o sentimento humano.
Sentido há em toda e qualquer faceta, objeto ou local. O que não temos é a paciência de esperar pelo momento correto. Uma viagem a um lugar longínquo ou próximo, hoje, relevando nosso estado de espírito, pode não soar tão interessante. Numa outra oportunidade, o mesmo ponto, se visitado, pode se abrir escancaradamente ante nossos olhos, permitindo-nos a visualização de características peculiares que, no passado, passaram despercebidas. O local mudou? A paisagem adquiriu um diferente tom de verde? As pessoas se tornaram mais receptivas? Não. O que mudou, na verdade, foi a inspiração do motociclista, seu estado de espírito e todos os sentimentos que, unidos, naquele segundo ou terceiro momento, propiciaram-no enxergar em toda a plenitude a beleza que o local guardava para o seu vislumbre.
Eu não sou o mesmo depois de tantas perambulações por este mundo. Muitas coisas me marcaram para sempre (qualquer semelhança com as palavras de um jovem Guevara não é coincidência). Hoje sou mais indiferente em relação aos seres humanos e, devido a este fator, muito mais ávido em conhecer outros locais e pessoas, com o intuito logicamente de mudar esse preconceito em relação ao homem. Talvez se um dia eu encontrar um local perfeito habitado por pessoas perfeitas, eu pare de viajar e assente acampamento. E, se esse dia chegar, talvez eu não veja mais sentido em nada. Talvez seja a hora de partir e começar tudo de novo, pois é na imperfeição que se busca o perfeito; é na escuridão que se procura a luz; e é na mesmice que se procura a aventura.
Boa leitura, seja você motociclista ou não.
Centro Nuclear Almirante Álvaro Alberto. Praia de Itaorna, em Angra dos Reis |
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