sábado, 24 de março de 2012

Cássia dos Coqueiros e Monte Santo de Minas – 18 de março de 2012


A noção de pequenez do homem perante o mundo é-lhe seu caractere mais nobre. Há indivíduos, logicamente, que relutam em prostrar-se à altivez das montanhas, à jactância das chapadas, ao frêmito dos seres que espreitam a errática passagem humana sobre seu habitat natural e ao rugir tonitruante das intempéries num dia em que acreditávamos ser o sol o único senhor dos céus. Estes, contudo, são aqueles que veem o antropocentrístico mundo, aquele concebido com o homem como origem e fim de tudo, relegando a história natural, aquela que independe de nossa existência, a um segundo e, amiúde, completamente olvidado plano. Para os que enxergam no “progresso a qualquer custo” o desvencilhamento total do ser humano de seus selvagens genes, herança herdada de nossos primatas antepassados, há de se dissuadi-los de tal intento. É preciso, ao contrário, nutrir suas mais rústicas facetas, intentando, com isso, fazê-los voltar ao ventre que os conceberam. É preciso abrir a fórceps seus olhos e e apequená-los, para que tenham a consciência de que seu corpo e sua ideologia ocupam apenas uma parte ínfima deste planeta, e que este último não é apenas um pano de fundo para que desenvolvam seus egocêntricos atos.
Pelo Brasil afora, num domingo
Numa data próxima ao término do verão, eis que decidimos viajar. Mais do que a última oportunidade de nos despedirmos da estação mais quente e chuvosa do ano, seria uma forma de revivermos a simplicidade de uma incursão com apenas algumas horas de duração. Pernoitar fora de casa, como no caso das viagens para Ariri e para o Pantanal, por exemplo, requer um planejamento rebuscado, muita bagagem e uma quantia considerável de capital. Para Cássia dos Coqueiros, a apenas 200 quilômetros de Americana, não necessitávamos mais do que a roupa do corpo, míseros trocados para uma mínima alimentação e, o primordial, muita vontade de desbravar recônditos para nós desconhecidos. Munido da puída jaqueta de meu pai e da velha maquina fotográfica a tiracolo, e acompanhado por Luana Romero e Rodrigo Costa Gil, partimos de Americana, às sete da manhã de um domingo em que poderíamos aproveitar para descansar até mais tarde. Na vanguarda do iconoclastismo brasileiro, quebramos o protocolo, utilizando para tal aquela avidez em nos sacrificarmos um pouco para conhecer melhor o país que nos abarcou.
Tanque de combate M-41
Adentramos a Anhanguera, sentido Ribeirão Preto, visando avançar rapidamente por entre os canaviais e indústrias que formam a paisagem às margens da rodovia. Praticamente retilínea e, portanto, monótona, esta importante via de ligação do interior paulista com a capital nos levou ao acesso para Cachoeira de Emas, em Pirassununga. Neste acesso, um EMB-312 Tucano, avião produzido pela Embraer e utilizado pela Esquadrilha da Fumaça e pela Força Aérea Brasileira, é sustentado permanentemente por um pedestal sobre o canteiro central, evocando a importância desta cidade na defesa de nossas terras, já que nela se encontram instalações da FAB. Esse veio é reforçado ao se chegar às margens do rio Mogi, na mencionada Cachoeira de Emas, onde um tanque de combate M-41 e um marco do Exército Brasileiro adornam o gramado de uma praça circular, parelha a uma área destinada a camelôs. Este local me remete a minha infância, mas não pelas ostentações militares. Meus pais frequentemente almoçavam nos famosos restaurantes especializados em peixes de Cachoeira de Emas. Eu, quando os acompanhava, sempre me bestificava com as corredeiras do Mogi e com o museu de animais empalhados ao lado da velha ponte, na qual só se passa um veículo por vez. Fui desde infante condicionado a apreciar este movimentado naco de Pirassununga.

Rio Mogi, em Cachoeira de Emas

Estação de Santa Rosa de Viterbo
Deixamos Cachoeira de Emas e partimos em direção a Santa Cruz das Palmeiras. Pelo caminho, a cana-de-açúcar dividia sua hegemonia com o milho, a soja e a laranja, esta última modificando por ora os odores que esporadicamente entravam pelas frestas de nossos capacetes. Próximo a Tambaú, imensos canaviais voltaram a imperar, mas com uma peculiaridade: tufos de mata no cerne de grandes extensões de cana. Era como se alguns exemplares de vegetação nativa estivessem encarcerados pelos “soldados de açúcar”, formando uma paisagem incomum. Daí para Santa Rosa de Viterbo, as plagas ociosas e seu solo vermelho, mescladas com os ipês rosas e roxos paralelos aos mourões das grandes fazendas, foram nossa distrativa companhia. Nesta última cidade mencionada, após transpassarmos as sistematicamente plantadas bromélias de sua avenida de acesso, topamos com uma antiga estação ferroviária, desativada mas restaurada. Bem preservada, inclusive com parte de seus trilhos originais mantidos, é hoje utilizada pela Escola de Música da cidade. É uma construção centenária, inaugurada em 1910 e que serviu ao seu propósito original até 1967, ano de sua desativação. Nas imediações da estação os pilares de um futuro barracão estão sendo construídos. Questionei o senhor José, um morador local, se tal construção seria um ramal do trem bala que ligará Rio de Janeiro – São Paulo – Campinas. Sorridente ao gracejo, obtemperou que não.
Cajuru
Saindo de Santa Rosa de Viterbo, descemos o vale do rio Pardo, atravessando uma ponte férrea sobre ele, ulteriormente subindo o mesmo vale para chegamos a Cajuru, cidade que nos recepcionou com o que parecia ser uma festa, dada a multidão logo na via de acesso que adentrávamos. Para a minha surpresa, tratava-se de uma aglomeração nas cercanias do Velório Municipal. Em cidade pequena é assim: a morte é a reunião de praticamente um município inteiro, uma vez que todos se conhecem entre si. Com o termômetro nas imediações da rodoviária apontando escaldantes 34ºC, atravessamos a cidade até o trevo de acesso a Cássia dos Coqueiros, aproveitando o ensejo para fotografar o pequeno Cristo Redentor que, de braços abertos, petrificadamente se despedia de duas motocicletas e de três espíritos aventureiros. Sabia ele que, dentre um destes espíritos citados, jazia um firme no seu ceticismo-ateísta e que, por incrível que pareça, fotografaria, no decorrer desta viagem, obras arquitetônicas edificadas com o propósito de cultuá-lo?

Cássia dos Coqueiros

Santa Rita de Cássia
Não, e nem mesmo o próprio cético. Só saberia disso quatorze quilômetros depois de Cajuru, quando os coqueiros, os pinheiros e a altiva imagem de Santa Rita de Cássia surgia diante de seus olhos. Um gramado muito bem cuidado é o jardim desta escultura, de pouco mais de três metros de altura, protegida por uma estrutura de concreto parecida com uma porta convencional de qualquer igreja católica. A santa faz a vez de portal da cidade de Cássia dos Coqueiros, nome originado da união da devoção pela santa com a existência de várias plantações de coqueiro agreste quando da descoberta destas plagas, isso no fim do século XVII. De pé, aos pés da estátua, onde velas são queimadas e flores são ofertadas por fiéis, tem-se uma visão completa de toda a parte urbana da cidade, que conta com aproximadamente três mil habitantes. Gastamos algum tempo por ali, fotografando de todos os ângulos possíveis e observando os pequenos tratores que saiam da zona rural e ora ou outra passavam por nós. Por mais aprazível que o ermo fosse, não viéramos até aqui por um simples portal. Sabíamos muito bem o que procurar.
O vale da Cachoeira do Itambé
Na rua principal da cidade, uma placa carcomida pelo tempo indicava os principais pontos turísticos da cidade. A Cachoeira do Itambé, nosso escopo, era um deles. Há muito tempo me mostravam fotos desta queda, o que aguçava a minha vontade de conhecê-la. Neste dia tínhamos a oportunidade e o tempo necessários para concretizar mais este plano. Deixamos a altitude de 800m do aglomerado urbano de Cássia dos Coqueiros, então, e subimos em direção aos 927m da propriedade rural que abriga a cachoeira e seu magnífico vale de mais de 100m de desnível, para o qual suas águas despencam em queda livre. Na portaria pagamos uma taxa de R$5,00, apartamo-nos de nossas motocicletas e, do mirante em frente a uma pequena lanchonete, tivemos o primeiro vislumbre da queda de 84 metros. Contudo, não nos contentaríamos em apenas observá-la de longe. Necessitávamos descer o profundo vale e nos molharmos com o vapor desta magnífica obra da natureza. Com as pesadas jaquetas em punho, assolados pela umidade elevada e pelo calor causticante, principiamos o caminho ribanceira abaixo por uma trilha bem demarcada, o que por si só não garantiu conforto algum durante a penosa lida.

Macaco nas copas da mata atlântica

Cachoeira do Itambé
Cordas. Muitas cordas. Corrimões não havia. Apenas cordas, e meu caro camarada Rodrigo teve que vencer sua cisma contra elas. Pela situação de algumas, até mesmo eu, que não tenho muito apego à segurança, em alguns momentos preferi utilizar as raízes sobressaltadas da densa mata atlântica do vale a apoiar o peso de meu corpo sobre os filamentos de náilon em frangalhos. Instei Luana a fazer o mesmo, mesmo ela sendo consideravelmente mais leve. Algumas áreas desbarrancadas dificultavam ainda mais a descida, e é nestes instantes que você começa a pensar que, depois de chegar ao fundo, terá que subir tudo de novo, o que não é muito animador. O que nos motivou a prosseguir, além da possibilidade de estarmos mais próximos à queda, foi um bando de macacos que rapidamente cruzou pelas copas das árvores sobre nossas cabeças. Não consegui precisar que espécie de macacos eram, pois pouco se encarapitavam. Um tosco registro foi feito. Prosseguindo, atravessamos um riacho e, agora na parte mais plana do vale, seguimos o curso do pedregoso leito e da água proveniente da cachoeira. De algumas clareiras já era possível avistar a Cachoeira do Itambé e seu paredão, este último airando tons de bege e vermelho. Ao aproximar-nos, acocoramo-nos sobre as pedras que se empilhavam nos entornos do poço, formado ao contato da água com o fundo do vale com o passar dos séculos, e recebemos com doces encômios as partículas de água que bailavam pelo ar.
Rapel paralelo à queda
Esta é uma das cachoeiras em que a beleza não se encontra apenas na queda d'água. Todo o pano de fundo do filete que despenca em queda livre, com no máximo três metros de espessura, contribui para o garbo de Itambé. O vale, denso e colorido pelos ipês-roxos comuns à mata atlântica, o paredão com vários tons de cores claras, a complexidade para se chegar ao ponto mais próximo, onde a água esvoaçante se atrita suavemente com as pedras: todos estes são ingredientes capazes de causar uma estupefação em todos os que se atrevem a alcançá-la. Para os que se aventuram no rapel, num movimento descendente, cadente e moroso, do topo com vegetação rala, já quase cerrado, à base de contato, ladeado por densa vegetação, a emoção deve ser ainda maior. Enquanto analisava a descida destes esportistas, voltava meus olhos, esporadicamente, para Luana, que placidamente admirava a primeira cachoeira de sua vida. Como todo ser humano concebido e criado nos grandes centros urbanos, ela é apenas mais uma alma que vinha sendo privada de nossas belezas naturais, pois até então desconhecia visualmente o relevo e o grande potencial hídrico de nosso país. Rodrigo, perpetuando uma expressão que comumente verbalizamos, frisava: “este é o lugar mais lindo do mundo da última semana”.

Um último olhar ao "lugar mais lindo do mundo da última semana"

São Benedito das Areias
Prosseguir era preciso. Com algum tempo disponível, visto que ainda era princípio de tarde, ascendemos pelo vale, pela mesma calamitosa trilha, e nos unimos incontinenti as nossas motocicletas. Augurávamos, agora, localizar o Mirante e a Toca da Onça. Do primeiro pretendíamos obter uma ampla visão da região; da segunda, a gélida e sombria sensação de adentrar uma gruta. Com o pessoal da cachoeira, infelizmente, não conseguimos coordenada alguma. Retornamos, então, ao aglomerado urbano de Cássia dos Coqueiros, e mediante algumas errôneas informações calhamos na zona rural da cidade, praticamente na divisa com Minas Gerais. Em meio a sítios e fazendas, sempre mais do mesmo: alguns não sabiam até mesmo que tais lugares existiam. Seguindo a deixa de um inebriado senhor, rumamos a São Benedito das Areias. No caminho esperávamos que alguma placa indicativa elucidasse o paradeiro dos procurados atrativos. Para o nosso azar, descemos a serra – que na verdade é o braço extremo noroeste da Serra da Mantiqueira – e alguns minutos depois, vencendo a sinuosidade do traçado da rodovia, chegamos ao supracitado local, agora numa altitude de 635 metros. Descobrimos ser, posteriormente, não um município, e sim um distrito da cidade de Mococa. Plangi aos meu companheiros que não havia registrado em fotos absolutamente nada do alto da serra, pois ansiava por uma melhor visão a partir do Mirante. Como não o encontramos, todo o panorama da Mantiqueira foi perdido.
Milagre
São Benedito das Areias, com suas poucas e singelas construções, recepcionou-nos com o curioso olhar de seus moradores. Como em todos os pequenos vilarejos afastados dos centros urbanos, os arredores da Igreja Católica estavam abarrotados, visto que era um domingo. Nos bares a ébria alegria era geral, e o som alto parecia dar vida ao local que, nos meios de semana, deve ter uma dinâmica assaz letárgica. Sentados à praça bem arborizada, consultamos o mapa, com o intuito de planejar a rota de retorno, e descobrimos estar a poucos metros da divisa de São Paulo com Minas Gerais. O ensejo era perfeito para transformarmos a incursão em interestadual. Sem delongas, então, atravessamos o Córrego das Areias, que além de emprestar ao distrito a última parte de seu nome, faz a separação natural entre os dois Estados. Transpassamos a pequena ponte de concreto e, já em Minas Gerais, pilotamos por dois quilômetros até Milagre, distrito de Monte Santo de Minas. Por lá, a mesma desenvoltura de São Benedito das Areais: grande movimento nos bares nos entornos da Igreja de Nossa Senhora de Milagre. Pensando em alcançar a detentora do distrito, e desviando dos curiosos e simpáticos olhares dos receptivos mineiros, debandamos, numa estrada de reta retilínea de quatorze quilômetros de extensão, para Monte Santo de Minas.

Monte Santo de Minas

Matriz de Monte Santo de Minas
Na aparentemente bem organizada cidade de Monte Santo de Minas realmente não sabíamos pelo que procurar. Cachoeiras com certeza existiam, mas desconhecíamos suas exatas localizações. Após uma vez mais fotografar uma Igreja Católica, onde a badalação de jovens era esperadamente grande, optamos por subir novamente o braço da Serra da Mantiqueira, adentrando a zona rural deste município que conta com pouco mais de vinte mil habitantes. Sem querer, cortando os sítios e laivos de transição entre mata atlântica e cerrado, trilhávamos uma estrada que nos levaria de volta a Cassia dos Coqueiros. Pedimos informações ao senhor Gimenes, que degustava algumas frutas à sombra de um angico. O receptivo homem nos instou a deixar as motocicletas à beira da estrada e seguir o curso de um córrego. Segundo ele, alcançaríamos uma cachoeira com 30 metros de queda. Assim o fizemos, mas optei por ir solitário, deixando Rodrigo e Luana em espera, pois não sabia se o caminho era realmente transponível. Varei a cerca, emparelhei-me ao córrego e venci a mata fechada e os estrumes do gado que porventura buscava sombra por ali. Em alguns minutos me deparei com um barrento precipício. A cachoeira realmente existia, mas descer era impossível. Somente por rapel, como havia frisado Gimenes. Para me dissuadir ainda mais, alguns jovens, que denominaram-me “turista”, faziam o uso de entorpecentes pesados à beira de uma fogueira, próximos à cabeceira da queda. Não achei interessante ficar por ali. Retornei à companhia de meus camaradas e seguimos rumo a Cássia dos Coqueiros.
Vista do alto da "serrinha"
Da estrada de terra principal, que subia a Serra da Mantiqueira (os mineiros a chamam apenas de “serrinha”), a vista, que fora deixada de ser registrada na descida de Cássia dos Coqueiros para São Benedito das Areias, pôde ser vingada. Acessamos uma ramificação que teoricamente levaria a algum sítio local, e calhamos à sombra de um angico, solitário, junto aos mourões que ladeavam a estrada, fazendo-se de único empecilho entre nós e a paisagem que se escancarava, bela, do outro lado. Atônitos, contemplamos por alguns momentos o desenho das montanhas, a cidade de Arceburgo, ao longe, e até mesmo a Serra da Babilônia, ao norte, que na verdade é parte integrante da Serra da Canastra, mesmo não estando incorporada aos seus territórios. Inspirados por essa magnífica imagem, consultamos as possíveis rotas de regresso para Americana, pois o sol, a oeste, ameaçava dizer adeus. Deixamos o ponto onde estávamos, a 1106 metros de altitude, para por um fim a esta cansativa, mas surpreendente incursão. Retornando para a parte urbana de Monte Santo de Minas, tivemos uma última oportunidade de fotografá-la a partir de uma parte alta, comprovando a minha máxima de que toda cidade, se observada de longe e de um ponto elevado, é tão bonita e tão bem organizada que dá a impressão de ser um lugar perfeito, alheio a problemas. No entanto, sabemos muito bem que isso não é verossímil.

Serra da Babilônia

Errante, mas viajante
Prestamente deixamos Monte Santo de Minas. Obviamente muitas cachoeiras e mirantes foram deixados para trás, pois não tivemos tempo hábil para localizá-los. Não obstante, o pouco tempo em que estivemos em Minas Gerais foi suficiente, por si só, para avivar em mim o desejo antigo de ir para a Serra da Canastra, que pude ver, mesmo de longe, do alto da Mantiqueira – ou da “serrinha”, como preguiçosamente balbuciam os meus queridos irmãos mineiros. Passando pelos limites de Arceburgo, atravessamos a divisa entre Minas Gerais e São Paulo, neste ponto demarcada naturalmente pelo rio das Canoas. Este nasce em Franca, não muito longe dali, seguindo seu curso de 46 quilômetros rumo às águas do rio Grande, no município de Pedregulho. Em Mococa, de volta ao Estado de São Paulo, fomos afrontados por uma rápida e forte chuva, o que nos obrigou a procurar guarida em um galpão da zona industrial da cidade, paralelo à rodovia. Passada a aspirante à tormenta, seguimos em direção a Mogi Guaçu e Mogi Mirim, nesta última aportando e apeando uma última vez antes de nos separarmos. Rodrigo seguiu pela mesma rodovia, tomando seu rumo a Campinas. Eu e Luana venceríamos ainda mais 70 quilômetros pelas redondezas de Engenheiro Coelho e Limeira até seguramente atracarmos na Praia Azul, em Americana. O cansaço da viagem, evidente em nossas expressões, será rapidamente retirado de nossos corpos pelo repouso. O que vimos pelo caminho, no entanto, de nossas lembranças nada poderá subtrair.
Errante, mas viajante. Rotulado não gostaria que fosse, mas de tal forma deveriam chamar-me se rótulos fossem compulsórios. Mesmo que muitos acreditem que o mundo acabe ainda neste ano, devo dizer que estão errados. O mundo não acabará, e sim a humanidade. A Terra se perpetuará sem a presença do homem, ao passo que o homem não é capaz de sobreviver sem a Terra. Somos tão mesquinhos que reduzimos o planeta à morada do ser humano, quando na verdade estamos aqui para dividi-lo com todos os outros seres animados e inanimados. De qualquer forma, o mundo, pelo menos por mais alguns anos, não se extinguirá. Num pensamento egoísta, como de todo homem, ele não pode acabar, pois ainda preciso conhecer a caatinga, a amazônia e o delta do Amazonas. Tenho que domar este por enquanto incontrolável monstro devorador de conhecimento que se apossou de mim. Continuarei errante, mas viajante.


Mais fotos aqui.

E abaixo, um blues rearranjado sobre uma canção do Overlost, de 2006, e agora destinado a Cássia dos Coqueiros e Monte Santo de Minas.